Hoje é possível encontrar desde uma lingerie sexy até um conjunto básico para o dia a dia, em diversos tamanhos, nas lojas de moda íntima. Porém, ao longo da história, o setor passou por mudanças até se tornar o que é atualmente.
Se o foco da mulher contemporânea é o conforto, por muitos anos, padrões de beleza inalcançáveis criavam calcinhas e sutiãs incômodos, a fim de proporcionar uma cintura mais fina e salientar o busto. Por outro lado, a lingerie também foi se adaptando ao contexto social e cultural. A busca por direitos e a maior igualdade com os homens fizeram muitas mulheres questionarem a falta de conforto da moda íntima.
Tópicos como esses continuam presentes e ainda afetam o mercado de lingerie contemporâneo, que se adapta a cada nova reivindicação.
Ideal de cintura dos anos 1900 (Foto: Reprodução)
O espartilho da antiguidade
O surgimento do espartilho remete à Idade Média, bem antes da criação do sutiã, nascido com o objetivo de moldar a silhueta feminina. Na época, era importante manter a postura ereta e os ombros para trás, o que fazia muitas mulheres se submeterem a estruturas de ferro para alcançar o resultado.
O foco da peça recaía sobre os seios e a cintura, tornando aros no busto e a redução da barriga detalhes de grande valor no espartilho. Por muito tempo, o item trouxe consequências como asfixia, além de comprimir órgãos internos.
Com o passar dos anos, a peça foi se tornando menor e menos rígida. Babados e rendas foram adicionados, como forma de torná-la mais romântica e delicada. Porém, o item começa a se tornar obsoleto, a partir do momento em que as mulheres incluem diferentes atividades práticas em suas rotinas.
A invenção do sutiã
A francesa Hermione Caddole foi responsável por criar o protótipo de sutiã, em 1889, em sua própria fábrica de lingerie. Apelidado de "corpete para os seios", a peça era feita principalmente de algodão e seda.
Ao mesmo tempo em que ainda a peça representava uma preocupação em aparentar um busto maior e saliente, também existia a necessidade de maior movimento. Por isso, a estilista optou por inserir alças no ombro, tornando a roupa menor, com o abdômen livre.
A busca pela simplicidade e pela praticidade da espécie de sutiã se deu em um contexto que muitas mulheres brancas da Europa estavam demandando direitos civis básicos, como o voto e a entrada no mercado de trabalho. No ramo da moda, padrões inalcançáveis - como silhueta extremamente fina - também começaram a ser questionados.
O pin-up ganha força em 1950 (Imagens: Vaughan Alden Bass e Fritz Willis/Reprodução)
Mudanças no século XX
Com a chegada das guerras mundiais no início e em meados do século XX, muitas mulheres da classe média começam a ocupar fábricas e comércios para suprir a demanda por funcionários - já que grande parte dos homens foram para o combate. Portanto, houve a necessidade de tornar calcinhas e sutiãs mais funcionais.
Porém, a vontade de se inserir em um padrão físico continua afetando mulheres de diversas faixas etárias. Na década de 1950, por exemplo, a sensualidade feminina se expande, com a disseminação do estilo pin-up. É nesse momento que o antigo espartilho volta à tona, de maneira mais delicada, junto aos corsets.
No período, coxas grossas e bustos salientes estavam em evidência. A cinta-liga, acessório utilizado até os dias de hoje, também ganhou força na época, tornando a lingerie, acima de tudo, uma ferramenta para intensificar o desejo.
Direitos das mulheres
A constante sexualização do corpo feminino acaba provocando questionamentos e revoltas. Próximo a entrada da década de 1970, o movimento feminista retoma pautas da época, trazendo ao debate temas como liberdade sexual e igualdade salarial.
Em setembro de 1968 ocorre a "Women's Liberation Movement", quando centenas de mulheres vão às ruas para protestar e queimar objetos que representavam o machismo e a opressão da sociedade. Assim como revistas de beleza e cosméticos, vários sutiãs foram jogados ao fogo.
A partir dessa época, marcas de lingerie voltam seus esforços para atender às demandas atuais do público feminino, com peças mais largas, de cores básicas - que poderiam ser usadas ao longo do dia, sem causar tanto incômodo.
Diversos corpos ganham destaque na moda íntima atual (Fotos: Compra Fácil Lingerie/Reprodução)
Lingerie inclusiva
O conforto é uma pauta frequente na moda íntima. A demanda por bem-estar foi um constante estopim para algumas das mudanças mais impactantes na moda íntima. Hoje, a necessidade de peças que permitam movimento e não deixem marcas na pele continua, porém, cada vez mais, a inclusão de diferentes corpos também se torna pauta no meio.
Os anos 2000 foram marcados por modelos brancas e magras nas passarelas, em desfiles de empresas multinacionais, definindo por muito tempo o padrão em destaque na moda. Entretanto, nos últimos anos, marcas de lingerie vêm apostando em diversidade - seja de modelos de várias raças ou na ampliação dos manequins disponíveis.
A cantora Rihanna, empresária por trás da companhia de lingerie Savage X Fenty, bateu recordes de venda, apresentando em seu catálogo numerações maiores do que as disponíveis no mercado. As modelos escolhidas para a marca também são de culturas, idades e estilos diferentes.