ESTRELA
Dos livros às telas digitais
   
Projeto “Curta Café”, oportunizado por uma escola municipal de Estrela, levou adaptação do conto “A cartomante” para as telas dos celulares e redes sociais através de um curta-metragem protagonizado pelos próprios alunos

Por Rodrigo Angeli
28/06/2022 13h57

Uma iniciativa da Escola Municipal de Ensino Fundamental (Emef) Odilo Afonso Thomé, do Bairro Imigrantes, em Estrela, fez as aulas de português ficarem mais divertidas a partir de uma ferramenta cada vez mais comum aos jovens, o celular, unida a uma mais antiga tradição cultural, mas também de muito apreço entre os jovens: o cinema. Foi a partir desta proposta, batizada de “Curta Café”, que alunos da turma B do 9º ano utilizaram celulares para gravar uma encenação adaptada do conto “A cartomante”, de Machado de Assis. As cenas protagonizadas pelos próprios estudantes resultaram em um curta-metragem, batizado com o nome do conto, que acabou sendo divulgado para toda a escola e fez o maior sucesso. Não apenas ajudou na melhor compreensão das questões educacionais envolvidas, como também despertou maior interesse de outros, inclusive familiares, em torno da obra. E por tudo isso as produções podem não parar por aí.

“Por que não utilizar um instrumento já tão comum aos jovens, o celular, já muitas vezes usado como ferramenta de pesquisa e estudos, para aliado a outros meios digitais despertar maior interesse por um conteúdo?” Foi a indagação que a professora da Emef Odilo, Angélica da Costa, fez ao lançar o desafio aos alunos da turma quando em pauta estava o estudo de alguns contos de Machado de Assis, entre eles “A cartomante”. Ela detalha. “Uma das atividades propostas para o 9º ano B foi a adaptação do conto para o audiovisual, ou seja, a produção do curta-metragem, para que o conto fosse melhor compreendido e o processo ocorresse de uma forma divertida e diferente”, diz. O desafio foi aceito de forma imediata, empolgada, e a sala de aula não tinha mais limites.

Participação

“Durante as aulas de língua portuguesa, a turma decidiu quais e quantas seriam as cenas, se fariam adaptações na história, como se prender ou não o personagem ‘Vilela’ ao final, além de estudarem possíveis cenários na escola a serem utilizados, a caracterização dos personagens e outros detalhes”, revela a professora. “Vale ressaltar que neste caso o celular foi utilizado como importante ferramenta pedagógica, pois através dele realizamos as gravações e nos organizamos durante todo o processo, inclusive na troca de mensagens em outros momentos que não os limitados às aulas. Seja relembrando as cenas que gravamos cada dia, o que precisaríamos para as caracterizações e até a escolha da trilha sonora. E este processo todo ajudou em um aprofundamento do conteúdo do conto, aos seus detalhes e consequentemente a sua melhor compreensão”, justifica a professora.


 

A escolha de quem interpretaria cada papel também partiu dos próprios alunos. Mesmo que a encenação não proporcionasse a participação de todos à frente das telas, todos ajudaram no processo, da gravação aos detalhes nos bastidores, ajudando inclusive na organização dos cenários à caracterização dos colegas. Os principais personagens da obra foram interpretados pelos alunos Anna Laura Luzzi Vogt (‘Rita’); Antônia Luíza Portes da Silva (a ‘cartomante’); Ismael de Sena Jahn (‘Vilela’) e Gustavo Farias Pacheco (‘Camilo’). A gravação ficou a cargo de Pedro Vuaden, que também atuou em um dos papéis secundários, e a narração por Natinelly Alessandra de Oliveira de Matos. A edição final sim ficou por conta da professora Angélica da Costa, que batizou o projeto de Curta Café em torno da promessa de um lanche coletivo que realizaria com a turma para, depois de tudo pronto, apreciar a produção com os alunos.

Atuação

Os alunos não escondem que o apreço por outras obras, como também teatro, cresceu após o projeto, e que a atenção sobre as cenas de séries, novelas e filmes ganharam novos olhares. A aluna Antônia Luíza Portes da Silva fez o papel-título do curta. Com 15 anos, se disse surpreendida com a proposta. “Nos envolvemos muito em torno do projeto. No meu caso principalmente mais em torno do meu papel. Mas foi algo muito legal, diferente de tudo o que já havia feito até então”, diz ela. Foi a percepção que também teve Ismael de Sena Jahn (15). Intérprete do personagem ‘Vilela’, o jovem disse ter sido uma maneira divertida de aprender, por isso também que acredita que não será algo tão fácil de ser esquecido. “Difícil, não vou negar, foi ficar sem rir antes de algumas cenas. Mas conseguimos e o projeto valeu a pena”, revela. Já Gustavo Farias Pacheco (14), dono do papel ‘Camilo’, reconhece. “Não sei se por tudo o que ocorreu, mas adorei encenar o conto a Cartomante. Tanto depois de ter que ler e estudar mais o conto para fazer o vídeo comecei a gostar mais dessas histórias e passei a ler outros contos.”

Os três alunos possuem celular. Utilizam-os para diferentes propostas quando não estão em sala de aula. Antônia diz escutar muita música, ver vídeos diversos, até como os que produziu. Ismael reconhece gostar de jogos, mas garante que realiza muitas coisas pelo celular para auxiliar o pai no serviço. Gustavo faz uso diversificado, mas assim como os dois colegas, também para pesquisar temas e informações para trabalhos da escola. “Claro que para usar em sala de aula teria que se impor limites talvez. Acredito que eu conseguiria ter os meus”, diz Antônia. Gustavo já se mostra mais receoso. “Pode ajudar muito, mas seria preciso cuidado”, reconhece. Ismael avalia. “Não seria fácil para mim, nem para outros”, afirma ele, em relação ao uso do aparelho para os estudos em sala de aula. A professora Angelica avalia. “Ainda é tudo muito prematuro, mas é uma discussão que mais cedo ou mais tarde vai se tornar maior e mais necessária. Como os próprios alunos destacam, é e pode ser útil ferramenta, mas que precisaria de muitos regimentos, além de acessibilidade a todos, principalmente os mais carentes”, afirma ela, que de uma coisa não vai abrir mão: seguir atuando como ‘diretora’ em torno de propostas semelhantes do “Curta Café”.

   

  

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