TURISMO & VIAGEM
Grutas de Nossa Senhora de Lourdes inspiram fé e turismo no Vale do Taquari
   
Turismo religioso é contemplado com o Caminho de Lourdes

Por Jéssica Koch
29/07/2025 16h33

No coração do Vale do Taquari, um símbolo de fé e espiritualidade atravessa gerações e conecta paisagens naturais a histórias de devoção: as grutas dedicadas a Nossa Senhora de Lourdes. Presentes em diversos municípios da região, esses espaços são marcos de religiosidade popular, cultura e também estão no centro de uma nova proposta de turismo religioso: o Caminho de Lourdes.
Inspirado na forte presença das grutas marianas, o roteiro Caminho de Lourdes está em construção e articulação por lideranças religiosas, turísticas e comunitárias. O objetivo é conectar diversos municípios por meio de trilhas e roteiros que passam por grutas ativas, valorizando a fé, o patrimônio cultural e a experiência do visitante com espiritualidade e natureza.
“A implantação do Caminho de Lourdes envolvendo 13 municípios com trajeto de 220 quilômetros marca o início de uma iniciativa que abrangerá outras localidades do Vale do Taquari, possibilitando que caminhantes de jornadas de longo curso tenham diversas opções de trajetos”, conta Alício de Assunção, o responsável pela execução do projeto. 
“A criação do Caminho de Lourdes vem da constatação de que temos muitas grutas marianas, todas vivas e com forte participação da comunidade. A proposta é integrar essas manifestações num roteiro contínuo, como um caminho de fé e reconexão”, explica Rafael Fontana, presidente da Amturvales.


Uma devoção enraizada na história
A devoção a Nossa Senhora de Lourdes tem origem em 1858, na cidade francesa de Lourdes, quando a jovem Bernadette Soubirous presenciou 18 aparições da Virgem Maria em uma gruta. Desde então, a cidade tornou-se um dos maiores centros de peregrinação do mundo, com milhares de relatos de curas milagrosas atribuídas à fonte de água que brotou na gruta.
“Na França, o Santuário de Lourdes é o local com o maior número de milagres reconhecidos. Todos os dias, cerca de 500 enfermos são levados por voluntários até a fonte da gruta, em busca de cura. Muitos ainda hoje são curados”, relata o Padre Benjamin Borsatto, de Anta Gorda. 
Essa fé percorreu o oceano com os imigrantes italianos, especialmente os vindos do Vêneto e do Trentino, que trouxeram consigo a devoção mariana profundamente enraizada em sua cultura. Hoje, no Vale do Taquari, mais de 10 grutas dedicadas a Lourdes estão ativas, sendo locais de oração diária, novenas, romarias e celebrações.
Um exemplo emblemático é a gruta de Itapuca, com mais de 100 anos de história. Segundo o padre Benjamin, “é uma das mais concorridas da região. As pessoas vão rezar continuamente e a comunidade cuida com zelo do local. Em Anta Gorda, por exemplo, vi bancos antigos serem substituídos anonimamente por dois devotos, que simplesmente decidiram contribuir com a melhoria da gruta”.
Grutas naturais e espiritualidade popular
Grande parte das grutas são naturais, aproveitando a geografia do Vale, rica em encostas, cavernas e paredões. Elas são adaptadas com simplicidade, mas com muito cuidado: imagens, velas, bancos, iluminação e flores são mantidos por moradores e voluntários que zelam pela continuidade do culto.
“Esses espaços tocam o coração e a alma das pessoas. São lugares alternativos, de forte espiritualidade mariana. Como diz o ditado: ‘Por Maria a Jesus’”, complementa padre Benjamin. Ele destaca que além de Lourdes, outros títulos marianos também têm expressão na região, como Caravaggio, Fátima e Aparecida, mas que “Lourdes e Caravaggio têm ligação mais direta com a cultura italiana dos imigrantes do Sul.”


Patrimônio espiritual e turístico
A Amturvales reconhece nas grutas um patrimônio imaterial e afetivo que contribui para o turismo religioso, cultural e de natureza. O Caminho de Lourdes pretende consolidar essa riqueza, incentivando a peregrinação, o turismo de fé e a integração entre as comunidades locais.
O futuro do Caminho de Lourdes está sendo moldado a muitas mãos, pelas comunidades, paróquias, líderes religiosos, municípios e pela própria fé de quem mantém viva a devoção em cada vela acesa, cada banco restaurado, cada oração sussurrada ao pé de uma gruta.  O Caminho de Lourdes realizado de forma macro regional, foi idealizado para contemplar todo o Vale do Taquari. Além de proporcionar mais uma opção de roteiro no Vale, alavancando ainda mais o turismo religioso, faz parte de um guarda-chuva composto por outros caminhos que também vão ser comercializados no Vale em breve. 
“O Caminho de Lourdes vai contribuir para que as agências de turismo comercializem o trajeto, possibilitando que as comunidades dos municípios sejam contempladas, através de seus receptivos. Com isso, ganha os locais, ganha os negócios, ganha o turismo. Mais visibilidade através desta organização para o desenvolvimento do Turismo no Vale do Acolhimento, com este mapeamento, enaltecendo também o Turismo Religioso, com mais um produto”, afirma a secretária executiva da Amturvales, Vanessa Spindler”. 
Contemplam o roteiro os municípios de Progresso, Canudos do Vale, Marques de Souza, Pouso Novo, Coqueiro Baixo, Relvado, Putinga, Ilópolis, Arvorezinha, Anta Gorda, Doutor Ricardo, Capitão, Lajeado, Travesseiro e Encantado.  O projeto será lançado junto ao Seminário de Turismo de Natureza, que acontece nos dias 18 a 22 de outubr, em Lajeado. A idealização e realização é da Amturvales e da Rede Gaúcha de Trilhas, execução  de  Alício de Assunção e Passeios na Colônia, e apoio da Associação Amigos do Cristo Protetor de Encantado, da Rede Brasileira de Trilhas e da Associação Brasileira de Bacharéis em Turismo, ABBTUR. 

   

  

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