OPINIÃO |
NÃO HÁ VITÓRIA DA FAVELA QUANDO HÁ DERROTA DA CIVILIDADE |
No Brasil, prender um funkeiro virou praticamente um atentado à democracia. Quando a Polícia Civil algemou MC Poze do Rodo — aquele que virou ídolo da molecada entre uma rima sobre Glock e outra sobre a “vitória” — não faltaram acadêmicos, influencers, vereadores e militantes com avatar do Che Guevara correndo para as redes sociais em defesa do “artista”. Segundo eles, mais uma vez o sistema estaria oprimindo “o corpo preto da favela” que ousa incomodar o establishment com sua arte disruptiva.
Disruptiva, no caso, parece significar “ostentar drogas, armas, dinheiro ilícito e desafiar as leis penais com batida de fundo e muito autotune”.
MC Poze não foi preso por ser negro, pobre ou favelado. Foi preso por fazer apologia explícita ao tráfico de drogas e, segundo as investigações, por envolvimento com organização criminosa. Tais ligações são os principais aliados do racismo, pois reforçam estigmas sociais e atrelam a imagem da periferia à defesa do crime e ao culto à marginalidade — uma confusão deliberada entre cultura e crime. Cria-se um espantalho conveniente, em que qualquer tentativa de responsabilização penal é vista como racismo institucional, mesmo quando o acusado ostenta, nas redes, vídeos com criminosos armados, entoando versos como se fossem comunicados do Comando Vermelho.
“Mas ele fala da realidade dele!”. Sim, como se isso tornasse a criminalidade um estilo de vida legítimo a ser promovido para milhões de seguidores adolescentes. Essa realidade não pode ser retratada com a simplória colocação de que “a favela venceu”, quando, na verdade, trata-se de uma realidade desvirtuada dos princípios morais que a sociedade deveria considerar como desejáveis. Se saiu do crime, não fez mais do que sua obrigação — de um lugar onde jamais deveria ter entrado.
Mais grave do que os crimes investigados é a tentativa de blindagem moral automática: apontou o problema, é racista; criticou o conteúdo, é elitista. A esquerda identitária parece esquecer que a juventude negra da periferia também merece ídolos que não incentivem a morte precoce, o encarceramento ou o consumo de entorpecentes.
Defender MC Poze como mártir é como colocar um colete à prova de balas em ideias ruins: não impede que elas matem, mas evita que sejam responsabilizadas por isso.
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