CULTURA |
Quem são os Nenets, povo que se desloca pelo Ártico conforme o ritmo das renas |
Por gerações, grupo cruza a Península de Yamal em busca de pastagens, preservando uma das culturas mais antigas da região |
O vento corta o silêncio branco da tundra, um bioma caracterizado pelas baixas temperaturas e a ausência de árvores. No horizonte, uma linha de renas avança lentamente sobre o gelo, puxando trenós cobertos de peles. É assim que os Nenets se movem há séculos, entre o frio, o tempo e as luzes do norte.
Na Península de Yamal, no extremo norte da Sibéria, eles percorrem mais de mil quilômetros todos os anos em busca de pastagens. Suas tendas, chamadas chums, são erguidas e desmontadas com a mesma naturalidade com que o sol desaparece por semanas no inverno polar. As peles de rena servem de abrigo, alimento e vestimenta. Tudo o que possuem vem da terra e tudo volta a ela.
Para Marco Brotto, especialista em aurora boreal que passa mais de 200 dias do ano no Ártico, os Nenets são um lembrete de equilíbrio e sabedoria, “eles vivem em harmonia com o ambiente, não o enfrentam. Adaptam-se. Escutam o tempo da natureza”.
Entre suas crenças, uma se destaca pela força simbólica. As luzes da Aurora Boreal não eram vistas apenas como beleza, eram um sinal dos espíritos. Durante as noites em que o céu se tornava verde e violeta, o respeito era absoluto. “Apontar ou assobiar poderia atrair má sorte”, explica Brotto. “A aurora, para eles, é um diálogo entre mundos”.
Mas esse diálogo está ameaçado. O aquecimento global vem alterando as rotas das renas e encurtando os invernos. A exploração de petróleo e gás em Yamal avança sobre as terras que sustentam esse modo de vida ancestral. Ainda assim, os Nenets continuam se movendo, como sempre fizeram, desafiando a ideia moderna de progresso e lembrando que, em alguns lugares, a sobrevivência ainda é um ato espiritual.
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |
![]() |