CINEMA
Festival de Cinema Acessível Kids faz evento em Mostardas e depois buscará adequar programação à realidade pós-cheias no Rio Grande do Sul
   
Nos dias 6 e 7 de agosto, o projeto de cinema visitará a área urbana e a comunidade quilombola dos Teixeiras, em Mostardas, no Rio Grande do Sul

Por Airton Gontow
02/08/2024 17h59

Festival de Cinema Acessível Kids - a serviço da inclusão educacional trabalha para adequar a programação deste ano para atender localidades e cidades impactadas pelas cheias no Rio Grande do Sul. O projeto de arte, educação e lazer, voltado para crianças cegas ou com baixa visão, surdas ou com deficiência auditiva ou com deficiência intelectual ou cognitiva e população de baixa renda, tem a chancela da Unesco e foi selecionado para a 38ª edição do "Criança Esperança". A próxima etapa do Festival acontecerá na próxima semana, dias 6 e 7 de agosto, em Mostardas (a 200 km de Porto Alegre), na área urbana e na comunidade quilombola dos Teixeiras.  

No dia 6, das 9h às 16h30, será realizada uma oficina para professores da rede municipal, no Auditório Municipal Mathias Azambuja Velho (rua Bento Gonçalves, 979). Já no dia 7, será exibido o filme  “Divertida Mente”, em dois horários. A primeira sessão acontece às 9h, também no Auditório Municipal de Mostardas, para 200 alunos de três insituições de ensino: Escola Municipal Fundamental Dinarte Silveira, Escola Municipal Fundamental Marcelo Gama e Escola Municipal Fundamental Ruy Miguel. Às 14h, a sessão de cinema será no Salão Paroquial da Comunidade Nossa Senhora do Rosário, na Associação Comunitária Quilombola dos Teixeiras, para cerca de 150 alunos da Escola Municipal Fundamental Marcílio Dias e da Escola Municipal Fundamental Emílio Ferreira de Lemos. A entrata para as sessões de cinema é franca.

O idealizador e diretor do Festival de Cinema Acessível Kids, Sidnei Schames, o “Sid”, conta que o evento atenderá as crianças que moram na zona urbana e também alunos de escolas rurais. “Para muitas dessas crianças da comunidade dos Teixeiras, que tem cerca de 90 famílias, será a primeira experiência com cinema”, afirma. 

A etapa em Mostardas já estava programada antes das cheias. Depois, o projeto nascido no Rio Grande do Sul viajaria este ano para pelos menos mais três capitais do País - Fortaleza (CE), Campo Grande (MS) e Brasília (DF). Mas, segundo Schames, em função da necessidade emergencial pela qual o estado está passando, o projeto vai procurar diminuir as viagens para outros estados e concentrar os eventos no Rio Grande do Sul. “Já tinhámos escrito e proposto para o Programa Criança Esperança um projeto inicial para 2025, após as cheias do Guaíba do ano passado. Pensávamos em visitar as cidades atingidas e chegar, por exemplo, à região metropolitana das ilhas. Mas agora as cheias vieram com ainda maior intensidade, atingindo mais cidades e pessoas; e queremos antecipar algumas das nossas ações”.

Ele acrescenta: “o estado está se reestruturando e nosso projeto também procura se adeaquar à nova realidade. Estamos fazendo um mapeamento detalhado sobre o que já está funcionando, para estudarmos e planejarmos o que é possível fazer. A ideia é ao invés de priorizar a circulação nacional, visitar logo que possível algumas das áreas e escolas impactadas pelas enchentes”. Mesmo assim, está confirmada a volta do projeto a Brasília, durante a Semana da Criança, em outubro, em evento com o apoio do Senado Federal.

Exibição de filmes e oficinas para professores

Desde 2022, o Festival de Cinema Acessível Kids - a serviço da inclusão educacional passou a ser alicerçado em duas grandes ações: a capacitação de professores das escolas públicas em inclusão social, em oficinas de seis horas, para grupos de até 25 professores; e a exibição de filmes acessíveis com um debate após a sessão.

             Isso porque no Criança Esperança o Festival de Cinema Acessível Kids integra, no âmbito educacional, a formação de educadores inclusivos. Tem como foco desencadear um processo de inclusão educacional e social das crianças, adolescentes e jovens com e sem deficiência; e outros grupos minorizados. Para valorizar a educação e lutar contra a evasão escolar, o projeto busca atuar de forma mobilizadora e fortalecer os vínculos de alunos e professores, através de atividades lúcidas que despertem o interessante de crianças e jovens no convívio entre os diferentes.

“O investimento na formação das crianças garante uma sociedade melhor no futuro. Ações como esta do Festival possibilitam que as crianças e jovens já cresçam em um contexto que acolhe e respeita as particularidades de cada indivíduo. Estar em um ambiente com pessoas com deficiência e pessoas sem deficiência, com todos assistindo a um filme de forma independente, provoca de maneira efetiva o pensar no que realmente podemos e sobre o que precisamos para exercer o nosso direito à cidadania. O acesso à cultura é fundamental. É notável a diferença na formação do adulto se já na infância houver a convivência e a troca entre crianças com e sem deficiência”, diz Sidnei Schames, acrescentando que o projeto buscará chegar cada vez não apenas aos espaços urbanos, mas às diversas comunidades, como indígenas e quilombolas.

Sobre o Festival de Cinema Acessível Kids

As obras do Festival contam com os recursos de audiodescrição, legendas descritivas e Língua Brasileira de Sinais. A audiodescrição permite ao público com deficiência visual (pessoas cegas ou com baixa visão) ter acesso aos filmes através da descrição dos elementos visuais da obra. Pesquisas demonstram que esse recurso beneficia, ainda, espectadores com autismo, Síndrome de Down, deficiência intelectual e déficit de atenção.

As legendas e a janela de Libras trazem acessibilidade ao público com deficiência auditiva. Além dos filmes acessíveis, o Festival promove uma recepção acolhedora do público, para que todos se sintam bem e possam aprender uns com os outros a partir das sessões de cinema. “Tivemos casos de pessoas que fizeram curso de Libras para poder se comunicar com pessoas surdas a partir da experiência que tiveram nas edições anteriores. O Festival Kids é muito mais do que a exibição de filmes acessíveis. Trata-se de uma oportunidade de troca e aprendizado”, afirma Schames.

O projeto nasceu há nove anos em Porto Alegre, como Festival de Cinema Acessível, idealizado pelo empreendedor e musicista Sidnei Schames, presidente da OSC Mais Criança (a proponente do projeto) e diretor da empresa Som da Luz. Logo na estreia, em 2015, seu filho, David, então com oito anos, não pode entrar no cinema, por não ter a idade necessária. Acabrunhado, exclamou: “meu pai criou um Festival Acessível para os outros; mas não é acessível para mim!”. Logo depois, transformou a indignação em projeto: “Pai, que tal a gente criar também um festival para as crianças? Já tenho até nome e slogan: ‘Festival de Cinema Acessível Kids, leve seu pai ao cinema”.

Esse é o projeto que estreou em 2017 e que recebeu a chancela da Unesco. Em 2022 foi expandido, com a paticipação na 36ª edição do Criança Esperança, onde ganhou uma maior relevância e saiu pela primeira vez da região Sul do país. No ano passado, participou da 37ª edição do Criança Esperança.  

Até hoje, em suas versões adulto e infantil, o Festival de Cinema Acessível, que também conta com o apoio do Senado Federal, foi assistido por cerca de 22.653 pessoas, em 39 cidades (São Paulo, Natal, Niterói, Florianópolis e Brasília, além de 32 no Rio Grande do Sul e duas em Santa Catarina), com um total de 121 exibições.

 O Festival de Cinema Acessível Kids – a serviço da inclusão educacional, Edição 2024, que tem a produção do Som da Luz, conta com o patrocínio da Bem Promotora e tem os seguintes apoiadores:  Abraccio, Outback, Total Seguros, Gontof Comunicação, Dextera, Expressão Natura, Camale, iQueest, Sopa Digital, Senado Federal e Mundo Melhor. Em Mostardas tem também o apoio da Associação Comunitária Quilombola dos Teixeiras.  

 O Festival de Cinema Acessível Kids traz como diferencial a adaptação de obras cinematográficas infanto-juvenis, mas que fazem sucesso com a família toda. Oferece conteúdo acessível de qualidade para uma parcela da população privada do direito de ter acesso à magia do cinema. As ações de inclusão cultural para o público das pessoas com deficiência são raras e, quando existem, invariavelmente assistencialistas.

 Os filmes têm audiodescrição das cenas para quem não enxerga, janela de libras para quem não ouve e legendas descritivas para quem não sabe Libras. “Para chegar às telas de cinema com toda a acessibilidade necessária, tudo é gravado em estúdio. É preciso de tecnologia e muita sensibilidade”, diz Schames. E acrescenta: “Todos somos diferentes, mas podemos compartilhar uma mesma sala de cinema. Nas sessões tem o pai com deficiência visual, com o filho que enxerga; a filha com deficiência auditiva com a mãe que escuta, crianças com deficiência intelectual ou cognitiva e todos estão juntos se divertindo dentro do cinema”.  David, hoje com 17 anos, afirma: “criamos o Festival para todo mundo ser igual. Não igual no sentido de ter as mesmas características, mas os mesmos direitos e possibilidades. É um momento de inclusão estar todo mundo, pessoas com e sem deficiência, assistindo ao filme”.

 Quando David e Sid contam sobre pessoas sem deficiência, se referem à presença de familiares, crianças, adolescentes e jovens não PCDs,também a quem vai às exibições como um exercício de aprendizado e empatia. “Fizemos sessões em escolas, onde as crianças assistem aos filmes de olhos fechados ou com venda nos olhos, para sentir como é um mundo sem imagens. Assim, esses alunos tentam se colocar na posição do Outro e aprendem a entender e respeitar as diferenças”, reflete Sid.

 O organizador destaca as oficinas para a formação de educadores inclusivos que acontecem em várias edições do Festival de Cinema Acessível Kids, como parte do Criança Esperança. “Temos conseguido contribuir com os educadores para fazer o acolhimento de forma adequada. Assim, cumprimos uma função muito importante, já que aumentamos – e precisamos ampliar ainda mais - a velocidade dessa mudança na sociedade. Se mostramos que a inclusão é perfeitamente possível, ela se torna natural. Estamos fazendo parte de uma história importante, do caminho da acessibilidade, do tudo para todas as pessoas”, reflete Schames, que acrescenta: “nosso  foco é desencadear um processo de inclusão educacional e social das crianças, adolescentes e jovens com e sem deficiência; e outros grupos minorizados. Para valorizar a educação e lutar contra a evasão escolar, o projeto busca atuar de forma mobilizadora e fortalecer os vínculos de alunos e professores, através de atividades lúcidas que despertem o interessante de crianças e jovens no convívio entre os diferentes. O reconhecimento e a continuidade do nosso trabalho são mais uma comprovação de que estamos no caminho certo na construção de uma sociedade melhor e igualitária”.

 

Rede Virtual

No ano passado, além das sessões de cinema com as tecnologias de acessibilidade (audiodescrição, LIBRAS e Legendas descritivas) e as oficinas para Educadores Inclusivos, o projeto passou a ter uma Rede Virtual de compartilhamento de boas práticas Inclusivas. Schames conta que a novidade incluiu a criação de um Portal que abriga o site da OSC Mais Criança e outras instituições que também trabalham com a Diversidade, Inclusão Social e Cultural, Acessibilidade e outras questões que combatam as desigualdades e a discriminação. Segundo ele, o portal tem uma sala de trocas de boas práticas sociais dos participantes dos eventos, já que essas experiências e conhecimentos devem ser compartilhados”.

 

Lei de Inclusão

Em dezembro de 2015, a Lei Brasileira da Inclusão surgiu para reforçar o direito das pessoas com deficiência quando, em seu primeiro artigo, diz que “é instituída a Lei Brasileira de Inclusão da Pessoa com Deficiência (Estatuto da Pessoa com Deficiência), destinada a assegurar e a promover, em condições de igualdade, o exercício dos direitos e das liberdades fundamentais por pessoa com deficiência, visando a sua inclusão social e cidadania.”

A participação das pessoas com deficiência é um direito inquestionável, porém ainda não é concreto e pleno. “As leis existem, mas na prática não são cumpridas. Por isso entendemos que projetos como esse, que promovem a acessibilidade e inclusão de todos, ainda são fundamentais. O Festival de Cinema Acessível Kids – a serviço da inclusão educacional oferece conteúdo acessível de qualidade para uma parcela da população que é privada do direito de ter acesso à magia do cinema. “As ações de inclusão cultural para o público das pessoas com deficiência são raras e, quando existem, invariavelmente assistencialistas”, diz Schames.

O Festival de Cinema Acessível Kids, assim como o Festival de Cinema Acessível, segue os direcionamentos presentes nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, definidos pela ONU. Contribui diretamente para a educação inclusiva, equitativa e de qualidade, promove a oportunidade de aprendizagem, crescimento inclusivo e sustentável da sociedade e oportuniza trabalho digno para todos (pessoas com e sem deficiência). “Estamos alinhados com os objetivos do desenvolvimento sustentável - ODS 4, ODS 8 e ODS 10 – e participamos diretamente da agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável”, conta o presidente da Mais Criança.

 

Títulos do acervo da Som da Luz na edição Kids

Avatar 1, Harry Potter e a Pedra Filosofal, Aladdin – Live Action, Malévola; Meu Malvado Favorito; Universidade Monstro; Frozen Uma Aventura Congelante e Divertida Mente.

 

Sobre a OSC Mais Criança

A OSC atua na defesa e promoção dos direitos humanos para a inclusão social, desenvolvendo e adotando tecnologias e abordagens inovadoras com a acessibilidade universal. Tem como referência os ODSs, em especial aqueles voltados para o desenvolvimento socioambiental, a educação, a cultura e a saúde, em busca de uma sociedade democrática equitativa e com acesso e participação de todos e de todas

   

  

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