COLUNISTA
Karate ou balé?
   
Para esta semana, nosso clunista Cristiano Vanni nos traz a posição de alunas de karate, que até tempos atrás era considerado coisa de menino. Confira

Por Cristiano Vanni
05/08/2021 15h08

Nesta edição olímpica venho ouvindo muito sobre a igualdade dos gêneros, esportes igualando número de categorias, ou até com disputas mistas. Este é um movimento que para tudo que vivemos até então "normal".
Desde meu início no esporte, nunca vi "isto é coisa de homem ou coisa de mulher", sempre vi seres humanos, a fim de se desafiarem e se desenvolveram das muitas maneiras que a atividade física pode oferecer. Em meus anos dentro do karate, frequentemente ouvi uma frase (que sempre discordei), mas hoje, observando minhas alunas, noto o quanto distante de um mundo "ideal e igual" ainda estamos. Esta semana fiz a pergunta para 2 das melhores atletas que tenho, e veja as respostas.

Porque karate e não balé?
É raro quem não tenha ouvido que ballet é coisa de menina e luta é coisa de menino. Crescemos com isso. Pode ser em casa, pode ser na escola, pode ser na vizinhança. É cultural: o Brasil é um país machista e temos, sim, essa divisão entre coisas de um e coisas de outro. Bem menos do que antigamente, mas bem mais do que deveria ser. Falar que eu queria larga uma sapatilha de ponta por uma luva gerou a seguinte frase: “não é só meninos que fazem?” “meninas são fracas” “vai viver apanhando dos meninos”. Escutar isso me fez ficar com medo de me machucar e só vinha na minha cabeça “luta é coisa pra meninos”. Então eu quebrei  esse padrão imposto pela sociedade e percebi que as lutas não são um ato de violência, e sim esporte, que permitem aprender a lidar com a própria força e a respeitar a do outro. Hoje em dia eu posso dizer que a luta me define mais que uma sapatilha de ponta e fazer algo que eu me sinta feliz não tem um preço.
(Jamile Lopes, faixa azul, 17anos)

Porque karate e não balé?
Existe uma citação que diz "aquilo que faz o seu coração bater mais rápido, e faz os seus olhos brilharem, é aquilo que realmente importa pra você ".
A resposta pra essa pergunta é mais ou menos isso, o karate, diferente do ballet, faz os meus olhos brilharem, faz o meu coração bater mais rápido, como se eu tivesse corrido por 2 horas sem parar!
O karate me impulsiona, me faz acreditar que é possível qualquer coisa, se eu me esforçar, e tiver o apoio da minha família (projeto Oss) me mostra que sou mulher e posso fazer qualquer coisa, posso sim, Escolher o karate ao ballet, que pra muitos seria o mais apropriado a uma menina - mas não, karate é a minha vocação, minha paixão e o que sempre me fez alguém melhor, enfim a melhor coisa que já me aconteceu.
Queria deixar como uma vivência própria aqui, pra aquelas que amam uma coisa, mas são proibidas de vivê-las ou sentem medo do que as outras pessoas irão falar, NÃO DESISTAM DO SONHO DE VOCÊS, se for o karate e não ballet, NÃO DESISTA, se for a dança e não a faculdade de Medicina, NÃO DESISTA!  O seu sonho sempre vai valer a pena. E se for os dois, se jogue e seja feliz também, não seja limitada e não deixe que te limitem, vá e faça acontecer,
Você é o protagonista da sua própria vida.
(Maryana Güntzel, 17anos, faixa roxa)

Estamos longe de nosso objetivo, temos dificuldades, com toda certeza, mas não vamos desistir. Igual nuca seremos, mas não falo sobre homem e mulher, falo de seres humanos. Precisamos de tolerância e resiliência, para que, cada dia, Jamiles, Maryanas, ... Possam ter seus espaços e possam tomar suas decisões, para que possamos viver em um mundo  sem perguntas como estas.

   

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